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Ser estrangeiro no própio país

Pessoas com malas em um aeroporto, simbolizando a experiência de ser estrangeira no próprio país.
Pessoas com malas em um aeroporto, simbolizando a experiência de ser estrangeira no próprio país.

Não sei vocês, mas eu já emigrei três vezes, e o mais absurdo que achei disso, foi ser estrangeira no próprio país. É estranho dizer isso, mas quando você se ausenta por muito tempo, acaba virando forasteiro na sua própria terra.
Por isso, hoje penso que a nacionalidade deveria ser uma escolha.

Quando eu tinha três anos, meus pais se mudaram para a Argentina, bem na época em que a democracia voltava por lá, enquanto no Uruguai, ainda demoraria até 1985.

Emigramos por dois motivos: primeiro, porque a Argentina prometia uma situação econômica melhor; e segundo, porque eu precisava passar por algumas cirurgias, e os médicos recomendaram que eu fosse atendida em um dos melhores hospitais infantis da região. E assim fomos. Mas esse tema da minha saúde física, deixo para outro artigo.

É incrível pensar que, mesmo tendo crescido em Buenos Aires, nunca gostei nem um pouco de viver lá. Dizer isso me pesa, se eu pudesse mudar algo, seria o modo como me senti todos aqueles anos em que vivi naquela cidade.

Por muitos anos repeti que, quando crescesse, voltaria ao meu país. Militei meu estrangeirismo até que finalmente parti.
O que eu não sabia era que o pior que podia acontecer com alguém era ser adulto no Uruguai.

A migração que te exila

Pode parecer paradoxal, e até ingrato, sentir que o lugar que te recebe desperta em você o desejo de fugir. Mas o mais ilógico é perceber que a sua própria terra nunca chega a ser seu lar. Que, mesmo tendo decidido voltar, o país ainda insiste em te expulsar.

> Homem cabisbaixo caminhando em estrada de terra, carregando duas malas antigas, simbolizando o sentimento de exílio e deslocamento.

Neste momento em que escrevo este texto, os Estados Unidos estão realizando uma deportação em massa sem precedentes. E eu entendo, como imigrante que fui a vida toda, que viver em outro país de forma ilegal está errado.
Mas essa situação me convida a refletir por outro ângulo.

É psicologicamente, emocionalmente e estruturalmente devastadora a deportação de pais e o envio de seus filhos para abrigos governamentais. Essa separação é uma estratégia dissuasiva, usada para mostrar ao mundo as consequências de apenas sonhar com uma vida na América do Norte.
Não é a deportação que ameaça, é a desconstrução.

No entanto, por mais dolorosa que seja essa realidade, o pior que pode acontecer com essas pessoas não é serem proibidas de entrar nos Estados Unidos, e sim terem que voltar para o país que já as havia expulsado antes.
E sabe de uma coisa? No fim das contas, você não é de lugar nenhum.

Pensei se algo assim acontecesse comigo, hoje, aqui, e me deu uma angústia tão forte que só consegui orar e agradecer… até por tudo aquilo que tantas vezes critiquei.

Negociando o que não te pertence

Tenho percebido, em algumas comunidades estrangeiras, tanto aqui quanto em Montevidéu, nas últimas vezes em que estive lá, que há pessoas que tentam impor sua cultura para se sentirem, talvez, mais acolhidas. Às vezes, nem se esforçam para falar a língua local, mas exigem que seu convívio seja aceito.

Muitas vezes eu rio, só para não criticar, quando vejo que são essas mesmas pessoas que repudiam a colonização, mas querem que o nativo se adapte ao modo de vida delas.

Viver me ensina. Acordar de manhã é saber de fato, que “terei aula na escola.

Morar no Brasil me fez enxergar a união de tudo o que descrevo aqui.
E não quero, das minhas próprias tradições, semear nenhuma. Por uma razão simples: quando a gente emigra, precisa estar aberto à mudança. Permitir que o diferente nos eduque.
Entender que, se saímos de um lugar, foi porque queríamos outra coisa. E se não estamos dispostos a mudar… então, também não deveríamos sair.

Obrigada por ler até aqui. Se você já passou por algo parecido, me conta nos comentários, vou adorar saber.
E se quiser compartilhar uma história real, vá até a seção Me Conte Sua História e me escreva. Quem sabe ela não vira parte da literatura.

Uma resposta

  1. Que lindo sería ser del mundo, de dónde te guste estar sin permisos ni migraciones
    Nunca lo había visto como tú pero hay mucha realidad en esta historia

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