
Li um artigo em que uma psicóloga especialista em linguística afirmava que, em um estudo realizado com mulheres bilíngues, foi descoberto que as respostas emocionais e os valores mudavam conforme o idioma em que se expressavam.
Mais tarde, pesquisadores como Jean-Marc Dewaele, da Universidade de Londres, comprovaram que indivíduos que falam mais de um idioma sentem que suas emoções, tom de voz, postura corporal e formas de pensar variam conforme o idioma utilizado.
Foi então que comecei a refletir e observei meu comportamento quando preciso falar em espanhol. Vale destacar que, com minha família, filha e amigos, inclusive quando falo com Deus, uso o castelhano. No entanto, percebi que me é difícil interagir e me relacionar com pessoas hispânicas.
Acredito que, pessoalmente, o espanhol rioplatense, que abrange Argentina e Uruguai, é o sotaque menos atraente da língua.
Um dia, de forma surpreendente, comecei a me observar e notei que, ao passar da ternura musical do português para o espanhol, minha postura muda. Meus gestos se tornam mais rígidos, meus ombros se erguem e minha posição corporal assume um tom mais impositivo. Naturalmente, minha voz materna se torna mais grave (dentro dos parâmetros de uma mulher hispânica), mas, em comparação, como ocorre com qualquer pessoa que alterna de idioma, ela perde a doçura típica do português brasileiro.
As consequências de ser bilíngue
Por que traz consequências falar dois idiomas e ter duas personalidades? Isso acontece porque a linguagem está ligada a contextos culturais e emocionais.
Quando falo em minha língua materna, meu cérebro se conecta com experiências sociais e emoções vividas nesse idioma. E se muitas delas, como de fato foram, envolveram luta, tensão ou esforço, meu corpo e mente reagem como se voltassem ao “campo de batalha”.
Por outro lado, ao falar em português, por ter vivido um processo de reconstrução pessoal, novas oportunidades e formas diferentes de me relacionar, sinto como se a língua me embalasse.
Ainda carrego a sensação de precisar me defender ou me impor fisicamente para demonstrar autoridade. E, paradoxalmente, no Brasil, basta a expressão de um pensamento.

Não se trata necessariamente de ter dois “eus”, mas sim de uma personalidade que se adapta de forma completamente diferente em cada contexto. É como uma lente que foca de um jeito para um lado e de outro para o outro.
Escolher quem eu quero ser
Dois idiomas, dupla personalidade? Lembro, hoje com a mesma angústia de ontem, de como eu queria ser eu mesma em português, e da dificuldade que encontrava, já que ainda não tinha adquirido a verborragia necessária para me expressar da forma que estava acostumada.
Minha maneira de falar sempre foi tão particular, que limitar minha expressão verbal seria não só um desperdício para quem ouve, mas também um processo involutivo para mim mesma.
Outro ponto importante era o senso de humor. Como fazer com que o que eu dizia, absurdo e engraçado, fizesse sentido o suficiente para arrancar uma risada?
O mais desafiador é fazer alguém dar uma gargalhada com algo espirituoso. Se eu perdesse esse poder, Paola não seria ninguém.
Foi então que compreendi que, tanto quanto a dor, o riso é universal. E, se não houver má intenção e tiver graça genuína, não é preciso tradução.
Me alivia saber que esse comportamento não é patológico, mas sim uma conduta natural de imersão automática na cultura do idioma falado.
Obrigada por ler. Se você já passou por algo assim, compartilhe nos comentários. E na sessão ME CONTE SUA HISTÓRIA, você pode me enviar um e-mail. Eu transformo experiências reais em livros.